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Dispneia em pacientes com doenças avançadas: ações da enfermagem

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A American Thoracic Society (ATS) define dispneia como uma experiência subjetiva de desconforto respiratório. Pacientes podem descrever essa experiência de inúmeras maneiras, mas geralmente relatam como uma sensação de sufocamento, necessidade de mais ar ou aperto no peito. O desconforto respiratório também pode ser observado como a incapacidade de finalizar a expiração, aumento do esforço respiratório ou respiração acelerada.

É importante enfatizar que a dispneia é um sintoma multidimensional que envolve componentes fisiológicos, psicológicos, sociais e ambientais na forma como é percebida pelo paciente, sendo de extrema importância uma abordagem interdisciplinar.

Ademais, trata-se de um sintoma complexo e de difícil interpretação, visto que, este sintoma varia de intensidade de acordo com a doença subjacente e estado emocional do paciente e pode estar ou não associado a alterações em exames laboratoriais, achados durante o exame físico ou sinais como hipoxemia e variações na frequência respiratória.

Dados demonstram que a dispneia de diferentes intensidades é um sintoma muito frequente em pacientes com doenças crônicas e avançadas, sua prevalência chega a cerca de 90% dos indivíduos que acometidos com doença pulmonar grave, 50% dos pacientes com câncer avançado chegando a 74% dos pacientes com câncer de pulmão e 80% na fase final de vida destes mesmos pacientes, afeta ainda 50% dos 23 milhões de pacientes com doenças cardíacas.

O desconforto respiratório aumenta de acordo com a progressão da doença, sendo comum na fase final de vida algum grau de dispneia, principalmente em pacientes que não receberam tratamento prévio para tratar o sintoma como, por exemplo, abordagem dos cuidados paliativos.

Como o enfermeiro deve avaliar a dispneia?

Como a dispneia é um sintoma subjetivo e há uma variação de como é experienciada, o melhor método de avaliação é o relato do paciente conduzido pelo profissional por meio de questionamentos ou instrumentos de avaliação com enfoque multidimensional e multifatorial.

Caso o paciente tenha alguma dificuldade de comunicação, pequenos sinais físicos que indiquem desconforto respiratório podem ser observados e alguns questionamentos podem ser endereçados aos familiares ou cuidadores.

O enfermeiro deve levar em consideração durante a avaliação:

  • Histórico pessoal e clínico principalmente cronologia da doença principal e tratamentos realizados.
  • Exame Físico padrão e atentar para exame minucioso pulmão e sinais relacionados a capacidade respiratória paciente.
  • Questionar início do sintoma, duração e quantas vezes ocorreu na última semana e nas últimas 24 horas?
  • O que geralmente causa a falta de ar, o que melhora e o que piora?
  • Você poderia descrever para mim como se sente durante os episódios que sente falta de ar?
  • Melhora com repouso? Piora com alguma atividade? Que tipo de atividade piora o sintoma?
  • Você poderia dar uma nota de 0 a 10 para gravidade da falta de ar (sendo 0 nenhuma e 10 o pior desconforto sentido)? Direcionar esta pergunta para várias situações, por exemplo, em repouso, em atividade, durante a consulta, durante a pior crise que sentiu entre outros. E ainda, questionar qual seria o nível aceitável para este sintoma.
  • Existe outros sintomas associados?
  • Você possui alguma crença relacionada a este sintoma que seja importante para você e seus familiares?
  • Revisar junto ao paciente as medicações indicadas para este sintoma e se há uso de medicações ou terapias não prescritas sendo realizadas.

Principais intervenções de enfermagem ao paciente com dispneia em doenças crônicas e avançadas:

  • Investigar e tratar causas orgânicas reversíveis com proporcionalidade (ex: infecções trato respiratório).
  • Avaliar condições que possam exacerbar a sensação de falta de ar, por exemplo, ansiedade ou medo.
  • Propor um plano de cuidados interdisciplinar.
  • Recomenda-se realizar a abordagem dos Cuidados Paliativos junto as equipes especialistas na doença principal, principalmente em pacientes com dispneia grave.
  • Identificação de fatores que exacerbem o sintoma e eliminá-los assim que possível.
  • A oxigenoterapia NÃO é a principal escolha, não há evidência de que a suplementação de oxigênio alivie a dispneia, principalmente nos casos em que não envolve hipóxia. Devemos optar para suplementação de oxigênio apenas em pacientes que apresentem Saturação de O2 menor que 88% de preferência uso de cateter nasal tipo óculos.
  • Desenvolver um plano de atividades que conserve energia, por exemplo, banho sentado ou momentos de repouso durante o dia.
  • Orientar pacientes, familiares e cuidadores sobre as causas dos sintomas e medidas que possam aliviar.
  • Educar a família sobre possíveis complicações: o acompanhamento por telefone é encorajado no apoio aos familiares e cuidadores durante as crises de dispneia.
  • Ambientes devem ser ventilados com janelas abertas.
  • Pequenos ventiladores posicionados em frente ao rosto, principalmente durante as crises.
  • Incentivar a presença de um familiar ou pessoa em que o paciente sinta confiança.
  • Promover ambiente com iluminação adequada e ausência de ruídos que possam causar incomodo ou stress em pacientes internados.
  • Posicionamento: em pacientes acamados elevar a cabeceira em torno de 15 até 45 graus, elevar os braços na altura do tórax com travesseiros o importante é estabilizar a caixa torácica. Caso o paciente queira deitar-se de lado, posicionar o lado ruim do pulmão para baixo. Durante as crises o paciente pode sentar-se de frente para uma mesa, inclinando-se para frente apoiando os braços em travesseiros. Evitar compressão de peito e abdome.
  • Orientar respiração programada, muitas vezes inspirar e expirar junto ao paciente pode aliviar o sintoma.
  • Recomenda-se reabilitação pulmonar principalmente para pacientes com doenças pulmonares crônicas.
  • Administrar medicações prescritas: morfina em baixas doses (primeira linha de tratamento) associado ou não a benzodiazepínicos contém as melhores evidências no alívio da dispneia.
  • Durante as últimas horas ou dias de vidas a dispneia pode estar associada a acúmulo de secreções, portanto a redução de hidratação parenteral e uso de antissecretórios como escopolamina ou atropina podem ser uma alternativa.
  • A sedação durante a fase final de vida para alívio de dispneia está indicada para casos muito específicos e refratários, não é usual quando o paciente recebe a abordagem prévia e correta para o sintoma, importante enfatizar que sedação não se faz com uso de opioides e deve seguir protocolos específicos quando necessário.

Os episódios de dispneia devem ser levados em consideração durante a história clínica do paciente e devem receber uma abordagem para seu alívio que seja multidisciplinar, a falta de ar é um sintoma angustiante que diminui consideravelmente a qualidade de vida tanto da pessoa que a experiencia, quanto de seus familiares e cuidadores.

Autor:
Paula Damaris Chagas Barrioso – Mestre pelo Programa de Mestrado Profissional em Atenção Primária à Saúde com tema “Cuidados Paliativos na Atenção Primária à Saúde” da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP) 

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