A doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de morte nos países ocidentais e apesar disso poucos pacientes são encaminhados para cuidados paliativos (CP). Não existe consenso sobre quando é o momento certo para encaminhar os pacientes para o CP, cujo principal objetivo é melhorar a qualidade de vida do paciente.
Cardiologistas, como muitos outros médicos, parecem pensar que os CP só acontecem no final da vida, mas na verdade podem ser apropriados em qualquer estágio de uma doença séria ou que mude a vida do paciente. Recente estudo publicado no JAMA mostrou que nos Estados Unidos os pacientes são, na sua maioria, encaminhados de modo tardio para o CP.
Os cuidados paliativos são um tipo de atendimento especializado interdisciplinar voltado para a melhoria ou manutenção da qualidade de vida de pacientes com doença grave e para suas famílias. Existem nos EUA unidades de saúde especializada em CP para pacientes com doença grave mais avançada e uma sobrevida esperada de menos de seis meses.
Cuidados paliativos não possuem requisitos relacionados ao prognóstico ou de gravidade da doença para inclusão de pacientes. Seu papel é auxiliar os médicos a continuar com as intervenções de prolongamento da vida, enquanto os CP desempenham um papel de apoio para os pacientes e seus clínicos. Muitas vezes, os especialistas em cuidados paliativos são consultados para tratar de questões complexas de gerenciamento de sintomas, estabelecer e documentar metas de atendimento e discutir questões psicossociais.
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Embora os CP possam ser de particular valor para os pacientes nos últimos dias de vida, mais valor poderia ser obtido pelos pacientes se eles pudessem acessá-los mais cedo. Uma sobrevida média de dois anos, a hospitalização, por exemplo, pode ser uma oportunidade para introduzir CP em pacientes com insuficiência cardíaca (IC).
Os autores avaliaram mudanças nas características de 1801 pacientes (77,7 ± 13,7 anos; 48,6% femininos) de 16 centros nos EUA, com DCV encaminhados a especialistas em cuidados paliativos durante um período de três anos, de 2015 a 2017. Os sintomas mais comuns foram mal estar, cansaço, anorexia e dispneia. Embora a proporção de encaminhamentos de clínicos aumentasse de 43,2% (167 de 387) em 2015 para 52,9% (410 de 775) em 2017, a proporção de encaminhamentos de cardiologistas, que já era baixo no inicio do estudo, diminuiu de 16,5% (64 de 387) em 2015 para 10,5% (81 de 775) em 2017.
Os resultados mostraram que 29% dos pacientes tinham escores de desempenhos paliativos baixos, consistentes com estar na cama e exigir cuidados totais, com uma curta expectativa de vida, e esse percentual não mudou com o tempo. Em comparação, apenas cerca de 10% dos pacientes com câncer, que é o maior grupo encaminhado para CP, se enquadra nessa categoria. Embora 69,5% de todos os pacientes com DCV (1252 de 1801) tinham o diagnóstico de IC, a proporção de diagnósticos de DCV como doença arterial coronariana e doença cardíaca valvular, aumentou de 25,6% (99 de 387) em 2015 para 30,1% (233 de 775) em 2017.
Os autores esclarecem que o objetivo dos CP é melhorar tanto a qualidade quanto a quantidade da vida de um paciente, com foco específico na melhora dos sintomas, da dor, do humor, redução da ansiedade, e o desenvolvimento de mecanismos de enfrentamento. Os autores observaram que pacientes com IC avançada podem ter uma alta carga de sintomas como dor, baixo humor e ansiedade.
Os cardiologistas de modo geral, estão mais focados em intervenções para controlar a IC do que em outros sintomas. Muitos pacientes lidam bem com isso, mas alguns precisam de mais apoio. Os especialistas em CP podem então aglutinar o cuidado do paciente focando não só nos sintomas da IC, mas também em outras condições clínicas que pioram sua qualidade de vida.
Em conclusão os autores não encontraram evidências que rejeitassem a hipótese de que o status de desempenho de pacientes com DCV encaminhados para CP permaneceu constante ao longo do tempo e os cardiologistas forneceram relativamente poucos encaminhamentos de pacientes para CP e essa proporção diminuiu ao longo do tempo. Oportunidades para especialistas em CP para construir abordagens colaborativas para fornecer cuidado precoce para pacientes com DCV devem ser avaliadas.
fonte: https://pebmed.com.br/a-importancia-do-cuidado-paliativo-em-pacientes-com-doenca-cardiovascular/