Crises epilépticas e epilepsia são comuns em idosos, porém o diagnóstico muitas vezes pode ser difícil. Essa população guarda algumas peculiaridades ainda, como a maior susceptibilidade a efeitos colaterais e presença de comorbidades, polifarmácia e interações medicamentosas. Há aumento de incidência tanto de crises sintomáticas agudas quanto de epilepsia após os 60-65 anos, sendo a idade fator de risco independente para esta última.
Diversas são as possibilidades etiológicas para as crises sintomáticas agudas (AVC isquêmico/hemorrágico; encefalopatia metabólica; drogas/álcool; trauma; infecção ativa SNC) e de epilepsia (AVC prévio; malformação vascular; demência; neoplasias). Vale ressaltar que os dois anos subsequentes ao fator precipitante conferem maior risco de desenvolvimento de epilepsia.
A clínica das crises em idosos não costuma ser tão clara quanto em jovens, sem que haja descrição de aura/pródromos, na maioria dos casos. As crises costumam apresentar componente disperceptivo preponderante, sem que haja tanto a presença do componente motor. Pense em crises em idosos se:
Observando as dicas clínicas supracitadas fica evidente a dificuldade no diagnóstico diferencia com o delirium em muitos casos. No subgrupo de idosos portadores de patologias neurodegenerativas, a semiologia das crises pode tornar difícil o diagnóstico diferencial com distúrbios de movimento, pois pode ocorrer clusters de mioclonias ou crises tônicas.
O pós-ictal costuma apresentar-se com confusão, não raro ocorrendo déficit focal (paralisia de Todd), que pode durar de segundos a dias na dependência do volume cortical envolvido, duração da crise, drogas usadas e idade do paciente.
A investigação de crises epilépticas/epilepsia nessa faixa etária deve constar de: anamnese (primeiro passo, indispensável), EEG (em pacientes selecionados), neuroimagem (RM crânio, preferencialmente) e exames laboratoriais (solicitar: sódio, potássio, cálcio, magnésio, glicose, ureia, creatinina, hemograma e perfil hepático). Uma vez que AVC é a causa mais frequente de crises em idosos, cabe ampliar screening laboratorial para fatores de risco (incluir perfil lipídico). No caso de suspeita clínica de meningite ou encefalite, a punção lombar está indicada.
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O diagnóstico diferencial dos distúrbios paroxísticos em idosos pode ser bastante amplo dada a presença de comorbidades e polifarmácia, na maioria dos casos. Não se pode deixar de aventar: síncope cardiogênica, distúrbios comportamentais flutuantes (delirium e estados confusionais) e transtornos de movimento associados a patologias neurodegenerativas; além de AITs.
Chegamos ao tratamento que, geralmente, não nos traz decisões fáceis dada complexidade do paciente. O primeiro conceito que devemos ter em mente é o de que, frente a crise sintomática aguda, a decisão de iniciar ou não a DAE baseia-se nos mesmos preditores de recorrência que em adultos jovens: primeira crise durante o sono, EEG alterado e crise focal. Em seguida, há de se levar em consideração o perfil de efeitos colaterais das drogas, via de administração e comorbidades do paciente (além de medicações em uso e possíveis interações). Assim como deve-se fazer em jovens, a titulação deve ser gradual e monoterapia sempre é preferível.
As novas DAEs (levetiracetam, lamotrigina, lacosamida) têm sido aventadas como escolha para idosos por conta de menor interação medicamentosa, farmacocinética linear (lembremos que idosos têm menor taxa de metabolização hepática, redução na TFG, redução da concentração de albumina sérica, aumento de gordura corporal, redução de peristaltismo) e menor incidência de efeitos colaterais.
Não há dados prospectivos de longo prazo para definição de prognóstico nessa população. Sabe-se que pacientes com crises epilépticas no contexto da Doença de Alzheimer têm menor resposta terapêutica; enquanto cerca de 80% dos pacientes com demência respondem à DAE.
fonte: https://pebmed.com.br